O calor, a ampliação das queimadas e aumento da fumaça a cada ano não podem ser vistos como normais. Argumentar que são ações do verão, é tratar como natural o processo antrópico que se assevera a cada ano. Há outros fatores que necessitam ser elencados na discussão do problema; a omissão e/ou leniência no enfrentamento é uma gravidade.
O processo cíclico na Amazônia vem sofrendo grandes alterações, dificultando a adaptação da vida humana e de todas as espécies no território. Muitas pessoas estão incomodadas, mas em sua maioria, cada um em seu canto, poucas são as ações concretas fora das redes sociais. Recentemente, uma delas organizada e realizada pelo coletivo Teia de Educação Ambiental e Interação em Agrofloresta – TEIA, em frente à Catedral de Parintins no dia 10 de novembro de 2023, contou com a participação de pouquíssimas pessoas, embora muitas estejam alarmadas nas mídias sociais e chateadas com as queimadas e fumaça.
Mas para além das manifestações, seja nas redes no asfalto, o que precisamos fazer concretamente? Em pequena escala, diminuir o tempo do banho, usar menos descartáveis, menos latinhas, consertar os canos quebrados, não deixar o lixo nas praias e praças para serem recolhidos por grupos ambientais, diga-se de passagem, lixo deixado por pessoas educadas num padrão cultural imposto por uma sociedade consumista. Além de não amontoar lixo nos canteiros das ruas ou nos terrenos baldios.
Em escala de nível médio, o que precisamos fazer? Produzir menos lixo, separar o lixo para a destinação correta, cuidar dos espaços comuns, arborizar as vias, praças e demais ambientes possíveis. E no campo mais amplo, realizar a coleta seletiva e fazer a devida destinação, cuidar dos aterros para que sejam fontes de renda, cuidar da água, fonte de vida e combater o desflorestamento desenfreado.
Mas vou um pouco mais além, é preciso que haja um congresso nacional, assembleias legislativas e câmara de vereadores dispostos a enfrentar o problema, neste campo é preciso também chamar as universidades para um plano emergencial. Somente culpar alguém e não buscar as possíveis e as mais breves soluções é um suicídio ambiental, muito perigoso, sobretudo com tantas pessoas estudadas no comando dos destinos.
Para a região do Baixo Amazonas precisamos de unidades do IBAMA para fazer a fiscalização da retirada de tanta madeira de áreas protegidas, mas é preciso também, incentivar que os madeireiros levem a sério a continuidade do trabalho com o devido reflorestamento. Não dá para o cidadão comum plantar um pé de árvore que leva anos para crescer e a floresta ser dizimada com tratores e equipamentos na derruba em larga escala.
Falando em plantar um pé de árvore, nossas ruas e praças precisam ser mais bem conservadas, muitas árvores estão morrendo ou sendo “matadas”. Precisaríamos de mais árvores nas ruas, nos canteiros, em nossas casas, dentro das possibilidades. Não acredito que a natureza esteja nos cobrando, somos nós que em nome do desenvolvimento não sabemos dialogar com os bens ambientais disponíveis.
Acredito que aliada ao IBAMA, as universidades podem desenvolver muitas atividades para além da conscientização. É preciso sensibilizar a comunidade para pensar e agir sobre a questão ambiental. Precisamos de cursos em nível superior para a Conservação dos Recursos Naturais, Biotecnologia, Agronomia, além do curso de Turismo, o grande potencial amazonense. A estiagem severa e o calor intenso trazem mais gastos aos governos, na conta da energia elétrica, que deveria ser substituída pela energia solar, nas contas de água encanada, nos atendimentos na saúde pública. Nossa inteligência não pode ter sido derretida pelo calor, ainda que a água da torneira esteja a cada dia fervente.
Não dá para ficar na discussão teórica se a queimada é no Pará ou na Vila Amazônia. O Brasil está queimando, as ruas estão ardendo, os rios secando mudando a rota das viagens. Sair de casa à tarde é ruim por causa do sol, à noite por causa da fumaça. Precisamos reagir e agir com muita brevidade.
Parintins, 19 de novembro de 2023.
Eliseu Souza, Docente da UEA
Gracy Dutra, Docente UEA
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